A convivência de 4 gerações no ambiente de trabalho

Por Bruna de Lucca, diretora de projetos da Studio BR Arquitetura

Vivemos a era que os especialistas chamam de revolução digital, também conhecida como indústria 4.0. Mais do que uma revolução tecnológica que coloca à caminho ferramentas nunca vistas, lidamos com as incertezas sobre seus impactos na relação do ser humano na esfera profissional. Começamos a ouvir, com grande frequência, termos como: Inteligência Artificial, a Robótica avançada, a Internet das Coisas, Veículos autônomos, Nanoteconologia, sabemos que vieram para ficar.

A indústria 4.0 não é apenas uma transformação completa e profunda da produção industrial, mas principalmente do comportamento humano em nível social e individual. Não menos ágeis, as tecnologias digitais tornaram-se ferramenta indispensável à convivência humana no mundo atual, criando um novo círculo de relações e elevando as oportunidades de inovação e crescimento, seja na forma de melhorar a experiência do cliente, seja na melhora de comunicação ou busca de soluções entre times dentro das empresas. 

A revolução digital, fenômeno sem volta, gera impacto global em todos os setores: indústria, comércio, saúde, serviços, agricultura. E, contrariando nossas previsões do passado, ela não acontece em um mundo povoado de robôs e carros voadores, pelo contrário. Há 30 anos nos referíamos a um 2020 em que nos alimentaríamos de pílulas espaciais, os carros voariam, robôs dividiriam calçadas conosco no trajeto pro trabalho. Porém nos deparamos agora com o que chamo de: Era dos paradoxos. Nela, coexistem o avanço tecnológico e a busca por nossa humanização.

Carros dão lugar à bicicletas e patinetes, ticket refeição é substituído pela comida caseira saudável, ferramentas digitais de gestão não resolvem tão rápido quanto práticas que envolvem contato humano, escrita em borders, post-its, workshops. Cuidar de nosso fator humano ganhou valor crescente perante os olhos do cliente, e principalmente do colaborador. 

A boa notícia é que a humanização das práticas é desejada por todas as gerações, tendo algumas delas crescido profissionalmente em um tempo de ferramentas menos digitais. A má notícia é que ainda vemos um perigoso descompasso entre a necessidade de implantação desta mudança X a prática em muitas empresas. Pesquisas mostram que 80% dos líderes empresariais mundiais acreditam que revolução digital é uma grande oportunidade de mudar, mas atestam não ter um plano exequível para realizar essa jornada. Se falarmos em humanizar o contexto em que esta mudança ocorre, então, este número piora mais.

Ao compreendermos que a transformação digital não é necessariamente tecnológica, mas majoritariamente organizacional, assumimos que a forma de trabalhar precisa evoluir velozmente a fim de garantir uma evolução compassada e menos traumática de cada companhia em relação ao mercado e às expectativas de clientes e colaboradores. 

Em primeiro lugar, esta mudança organizacional precisa de planejamento e ação especializada e requer condução a partir dos líderes (o famoso top-down). É preciso, acima de tudo, quebrar barreias e ouvir às pessoas. A tecnologia é um dos seus instrumentos para garantir uma evolução sem traumas ou perdas às organizações, mas ao atuar sozinha essa tecnologia gera apenas conflitos já que falamos de um momento em que quatro gerações atuam juntas no ambiente corporativo.

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Logo, as matérias de recursos humanos tornam-se as maiores aliadas das tecnologias a serem implantadas nas empresas. Em paralelo, suportando a mudança comportamental, organizacional e cultural de cada empresa, é preciso um olhar assertivo e embasado ao formato do espaço físico que abriga este trabalho. Projetar conforme tendências nunca caiu tanto em desuso. Perante o cliente e o colaborador não mais conseguiremos maquiar um espaço de qualidade, a qualidade não está na estética. Se hoje a “tendência” é humanizar o espaço, saber como fazê-lo é indispensável para garantir veracidade no resultado.

Especialistas em Workplace projetam como braço direito do cliente, para que cada detalhe seja estruturado e planejado, e somente após este assertivo desenvolvimento projetual, convidam-se executores para implantar os espaços.

Os caminhos do passado, em que o projeto do espaço de trabalho vinha num pacote de construção, geraram milhões gastos em áreas sem adesão (ainda que bonitas) e o pouco tempo gasto em um projeto tão significante (com a premissa de que tempo é dinheiro) abriram uma lacuna nos números de produtividade: pessoas não querem mais estar oito horas por dia em um espaço que não funciona. Se o espaço não funciona, mas as metas continuam, isso significa usar do tempo para atividades pessoais na conclusão de tarefas de trabalho. Ninguém mais quer este formato. Tempo é uma moeda de valor inestimável, e o tempo de vida particular nunca foi tão valorizado.

Quando falamos de espaços que não dialogam com a cultura da empresa então o resultado é mais catastrófico ainda. A invés de engajar, os espaços geram ironias, desconfortos, questionamentos. Conectar o espaço físico à empresa refere-se à ser transparente no que se oferece, e aplicar recursos para as pessoas acima de tudo.

Gerações Baby Boomers, X, Y e Z dividirão por anos o mesmo local de trabalho, e ainda que todos possuam acesso às novidades tecnológicas, sua forma de trabalhar e se relacionar, suas ambições e sua visão do que é o sucesso divergem consideravelmente. A concepção do espaço que irá abraçar todas essas gerações e todas as tecnologias a caminho, pode agora aprender com os erros do passado e criar um ambiente híbrido e favorável ao convívio de todos os perfis profissionais dentro de uma organização. 

Nos últimos 40 anos a tecnologia evoluiu mais de 20 vezes, já o espaço de trabalho avançou apenas 1,8 vezes (média global) no mesmo período de tempo. Sendo o espaço de trabalho a ferramenta líder aonde as demais ferramentas são implantadas, esse número assusta bastante.

O que era considerado revolucionário nas implantações corporativas em décadas anteriores, hoje nos confere números altos de insatisfação dos colaboradores (como foi o caso do Open Space – reprovado por 70% de pessoas entrevistadas sobre o tema). É chegado o momento de igualar a evolução tecnologia à evolução física do espaço e trabalho, mas, acima de tudo: é chegada a hora de preparar o espaço físico para a revolução digital que se apresenta. 

Está na hora de explorar e levar em conta o que a ciência, a arquitetura e a era digital, juntas, podem fazer pelas quatro gerações que hoje habitam e compartilham o cenário corporativo.